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As estelas ibéricas da Idade do Bronze Final: iconografia, tecnologia e a transferência de conhecimento entre o Atlântico e o Mediterrâneo

I. Resumo e âmbito do projeto

O principal objetivo deste projeto é a investigação exaustiva e sistemática das estelas da Idade do Bronze Final do ocidente da Península Ibérica, c. 1300-800 a.C. (Fig. 1). Esta abordagem permitirá não só estudar os motivos e composições das imagens representadas, a par do papel dos monumentos na paisagem e no contexto do Bronze Final, mas também se concentrará nas tecnologias essencialmente associadas ao seu fabrico e nas rochas utilizadas como matéria-prima. As estelas oferecem uma possibilidade única de investigar as complexas relações triangulares da cultura, da comunicação e da tecnologia neste período. Por outro lado, é essencial analisar as imagens, assim como os tipos de rocha, ferramentas e técnicas particulares que terão sido utilizadas no seu trabalho.

As estelas são lajes de pedra decoradas com uma altura média de 1,60 m, encontradas em três núcleos na Península Ibérica: Portugal, Estremadura espanhola e Andaluzia ocidental. Reconhecem-se igualmente três formatos principais recorrentes: estelas com uma composição básica de espada, lança e escudo; estelas com objetos adicionais; e estelas com representações antropomorfas adicionais. Estes monumentos têm fascinado numerosos investigadores e, por isso mesmo, têm sido estudados face à sua iconografia, tipologia, cronologia, distribuição geográfica e possíveis significados sociais e espirituais (Celestino 2001; Harrison 2004; Garcia Sanjuan et al. 2006; Brandherm 2007; 2013; Diaz-Guardamino 2010; Vilaça 2011; Celestino et al. 2012; Celestino & Rodríguez 2017; Araque 2018; Díaz-Guardamino et al. 2019a, b).

 Figura 1. Estelas de rocha dura: 1. Baraçal 1, granito; 2. Brozas, gabro; 3. Robledillo, granito; 4. Capilla 8, quartzito; 5. Capilla 1, quartzito; (1: cortesia de R. Vilaça, 2-5: fotografias de R. Araque).

 

Apesar dos numerosos estudos que apontam as estelas como achados arqueológicos representativos do Bronze Final da Península Ibérica, são escassos ou inexistentes os dados petrológicos e geoquímicos sobre a sua composição material, assim como a investigação sobre as ferramentas e tecnologias necessárias para a sua produção, à exceção dos estudos recentes para Andaluzia e Toledo (Díaz-Guardamino et al. 2019a, b; Merino Martín et al. 2019); ao mesmo tempo, os dados registados geralmente aceites sobre as representações reais são a exceção absoluta. Por conseguinte, ainda não se estabeleceu uma base científica para a interpretação destes monumentos. Além disso, não puderam ser estudados adequadamente nos seus contextos arqueológicos uma vez que a esmagadora maioria não foi encontrada in situ.

A investigação da grande maioria das estelas dispõe apenas de desenhos interpretativos ou planos dos desenhos. Estes variam significativamente de uma publicação para a outra, ignorando frequentemente o tipo de rocha, a estrutura e a mineralogia das estelas. Destaca-se igualmente que quase 50% de todas as estelas terão sido esculpidas em rochas duras como o granito ou quartzito, entre outras (Fig. 2). Este problema nunca foi abordado adequadamente e o trabalho destes materiais com tecnologias pré-históricas permanece por explicar e por explorar. Com esta abordagem pioneira, estudar-se-ão as estelas como um meio de imagem multifacetado, tendo em conta tanto as representações como os materiais utilizados para filtrar a informação simbólica e o seu posicionamento na paisagem como uma unidade cognitiva inseparável. Tal melhorará significativamente o conhecimento das estratégias pré-históricas da comunicação visual através de complexos simbólicos persistentes (Rodriguez-Corral 2017). Estes objetivos serão atingidos utilizando uma abordagem amplamente interdisciplinar, que inclui estudos de cultura cognitiva e visual, a par da análise de materiais, de petrologia, de mineralogia e da arqueologia paisagística.

 

Figura 2: Dureza de Mohs das rochas utilizadas para as estelas. Os valores devem ser considerados estritamente como aproximações: a dureza real de uma rocha específica só pode determinar-se mediante análises petrográficas (Araque 2018).

 

Pela primeira vez, os dados petrográficos permitirão uma identificação mineralógica sistemática das qualidades físicas dos tipos de rocha utilizados para as estelas. Realizar-se-á uma experiência arqueológica na qual as estelas de granito (magmático), xisto (metamórfico) e quartzito (sedimentário) serão replicadas por um mestre canteiro por modo a avaliar a habilidade, o esforço, as técnicas e as ferramentas utilizadas no Bronze Final. As superfícies serão registadas com imagens transformadas por refletância ou Reflectance Transformation Imaging (RTI), em continuidade com a abordagem inovadora de Diaz-Guardamino & Wheatley (2013; e também Díaz-Guardamino et al. 2015; 2019a, b). Face ao nosso objetivo, colaborámos com o projeto Nr. 2018-01387 do Swedish Research Council, “Rock Art, Atlantic Europe, Words & Warriors (RAW)”, coordenado pelo Prof. Dr. Johan Ling e pela Dr. Marta Díaz Guardamino.

As estelas do Bronze Final foram a continuação de uma grande tradição de arte rupestre antropomórfica na Península Ibérica: as estátuas-menir graníticas no Calcolítico seguiram-se das estelas de armas em xisto no desenrolar da Idade do Bronze, culminando nas estelas do Bronze Final – que por vezes reutilizavam as antigas estátuas-menir, como ocorre por exemplo em S. Martinho (Diaz Guardamino 2010; Rodriguez-Corral 2017; Diaz Guardamino et al. 2019a). A análise paisagística prevista para a Beira Interior (Portugal) e a adjacente Alta Estremadura (Espanha), regiões ricas em estelas e estátuas-menir, tem como objetivo uma comparação diacrónica e sincrónica da arte rupestre ao longo das possíveis vias de comunicação. Existem indícios substanciais de que as primeiras estelas surgiram na Beira Interior, pelo que se elegeu esta região para um estudo aprofundado dos monumentos em correlação com outros sítios do Bronze Final, dos recursos de matérias-primas e da possível circulação de materiais. Tal irá proporcionar também dados importantes para uma melhor compreensão dos conceitos, símbolos e tecnologias essenciais noutras regiões com estelas. A investigação arqueológica sobre povoamento, metalurgia, enterramentos e paisagem na Beira Interior é excecionalmente completa e permite o estudo das estelas dentro do contexto do Bronze Final (Vilaça 1995; 2004; 2007; 2011; 2013a, b; Vilaça & Cardoso 2017).

Em suma, este projeto foi concebido como um esquema piloto e de investigação fundamental para a avaliação de dados exaustivos sobre as estelas dentro da rede proto-histórica de tecnologia e de circulação de ideias. Os resultados referentes às antigas técnicas de trabalho da pedra serão aplicáveis a qualquer contexto arqueológico com arte rupestre pré-histórica.

 

II. Estado da investigação e propósitos

O registo arqueológico do Bronze Final na Península Ibérica encontra-se bastante fragmentado: escassos traços de povoados e o registo incompleto dos enterramentos são acompanhados por vestígios de depósitos metálicos e resquícios de atividades mineiras (Ruiz-Gálvez 1995; Pavón 1998; Bartelheim 2007; Lull et al. 2014). Tendo tudo isto em conta, as estelas, com as suas representações de objetos selecionados e seres antropomórficos, são de uma importância única para a investigação deste período. Além disso, estes monumentos representam a única arte figurativa conhecida do Bronze final no âmbito Atlântico. As imagens apontam para a existência de metalurgia avançada (artefactos de bronze) assim como para contactos interculturais representados pelos objetos característicos das tradições atlânticas, centro-europeias e mediterrânicas (Brandherm 2013; Rodriguez-Corral 2017; Díaz-Guardamino 2019a): isto revela uma pulsante transferência do conhecimento através das redes do Bronze Final e da alta mobilidade de indivíduos competentes.

Em primeiro lugar, pretende-se a elaboração de um registo exaustivo das estelas de acordo com os padrões digitais mais avançados, que até agora se encontrava em falta. Há, contudo, uma exceção importante: numa abordagem inovadora, quatro estelas da Andaluzia (Almaden de la Plata 2, Mirasiviene, Montoro, Setefilla) foram registadas com a tecnologia RTI (Diaz-Guardamino et al. 2015; 2019a, b). Os resultados obtidos por este grupo de investigação foram excecionais. O método RTI revelou motivos anteriormente não detetados, permitiu uma clarificação dos desenhos discutidos, assim como redesenhá-los com precisão e, o que é mais importante, proporcionou informação sobre as ferramentas utilizadas na produção de estelas. Com o presente projeto, o número de estelas estudadas sistematicamente aumentará significativamente.

Em segundo lugar, o problema do trabalho de rochas duras com ferramentas pré-históricas permanece em aberto. A elaboração das estelas a partir de rochas duras não pode ser totalmente comparada com a das suas homólogas em xisto brando ou arenito: tal como na cantaria moderna, o trabalho dessas rochas deve ter exigido ferramentas e técnicas fundamentalmente diferentes. Portanto, não terá sido por acaso que alguns artesãos tivessem elegido preferencialmente as rochas duras como meio para retratar imagens, algo que terá exigido conhecimentos especializados. A primeira avaliação geoarqueológica até à data revelou diretamente casos em que o granito para estelas deverá ter sido transportado intencionalmente ao longo de distâncias significativas (Vilaça & Osório 2017; Merino Martín et al. 2019). Por outro lado, ainda não se identificaram as ferramentas de alvenaria adequadas, já que apenas foram registadas as marcas de ferramentas nas quatro estelas mencionadas (Díaz Guardamino et al. 2015) e por métodos macroscópicos no Museu de Badajoz (Domínguez de la Concha 2005; Enríquez & Fernandez 2010). Devido à falta de análises e estudos tecnológicos, este projeto de investigação enfatizará a ciência dos materiais, que se complementará com a arqueologia experimental (veja-se também Gutierréz Sáez et al. 2020).

Em terceiro lugar, persiste o desejo de compreender o simbolismo das imagens das estelas. A aparição do Atlântico misturado com motivos mediterrânicos deve-se à posição central da Península Ibérica entre as redes do sul e do ocidente da Europa (Moore & Armada 2012; Aubet & Sureda 2013; Ling et al. 2014; Babbi et al. 2015; Rodriguez-Corral 2017; Araque 2018). Do mesmo modo, é chamativo que as estelas tenham aparecido sempre em zonas ricas em recursos metalúrgicos (por exemplo, cobre e estanho). A metalurgia do Bronze Final na Península Ibérica tem-se caracterizado por ser uma atividade descentralizada, realizada a nível comunitário (Vilaça 1995; 2013a; Bartelheim 2007; Figuereido et al. 2010; Senna-Martinez et al. 2011). Contudo, é evidente que os metais terão sido transportados a grandes distâncias a nível peninsular, e que as regiões com estelas estavam ligadas pelas vias de comunicação vinculadas às atividades metalúrgicas (Vilaça 2013b; Armada et al. 2018). Este projeto contribuirá para uma melhor compreensão do campo frequentemente negligenciado da transferência de tecnologia mediante a investigação dos aspetos do trabalho da pedra juntamente com a metalurgia correspondente. Acresce ainda um outro propósito deste projeto: compreender mais profundamente os significados sociais e espirituais das estelas como manifestações da criação de redes de pessoas na Península Ibérica e através dos mares circundantes.

 

III. Objetivos

Realizar-se-á um estudo exaustivo e sistemático das estelas ibéricas do Bronze Final, incorporando técnicas de um registo digital (RTI), ciência dos materiais (petrologia, geoquímica, análise de metais), análise de paisagens e redes, arqueologia cognitiva e social, estudos de cultura visual e arqueologia experimental. Este projeto, no qual participam especialistas das áreas de arqueologia, geociências, mineralogia e metalurgia, tem como objetivos principais proporcionar uma visão fundamentalmente nova do material, assim como das dimensões socioculturais das estelas. Analisar-se-ão como uma complexa composição de imagens, tipos de rochas, tecnologia e cenários paisagísticos, já que cada aspeto serviu para comunicar ideias particulares que devem ter ocupado as mentes dos indivíduos do Bronze Final. O centro da atenção são os artesãos individuais que existem por trás das estelas: dominavam as técnicas de elaboração da pedra, mas estavam dependentes do apoio das comunidades locais, que integravam a informação transmitida através dos meios de imagem nos seus contextos de vida. A eleição de um certo tipo de rocha para uma estela e a sua colocação deliberada em determinado sítio da paisagem seria tão importante como a composição dos motivos das imagens. Este projeto de investigação contribuirá para a investigação internacional do Bronze Final partindo de quatro perspetivas:

 

1. Investigação fundamental: registo e análise científicos

A base essencial para a investigação das estelas é o registo das mesmas com as técnicas mais avançadas, permitindo realizar estudos de superfície por modo a analisar os motivos e as marcas de ferramentas. Além disso, a classificação científica das rochas utilizadas para as estelas apenas pode ser conseguida por meio de petrografia; estas análises também facilitarão a identificação da procedência das rochas e poderão revelar o seu transporte a distâncias significativas para investigar a mobilidade física das estelas (Merino Martín et al.  2019; Vilaça & Osório 2017). Depois do registo previsto dos dados, será fornecida a informação subsequente para cada estela: fotografias; dados RTI; dados petrográficos e petrográficos; novos desenhos dos motivos e da superfície; análise das marcas de ferramentas; fontes materiais das estelas procedentes de Portugal (baseadas nas análises geoquímicas).

 

2. Tecnologia: a arqueologia do trabalho artesanal e dos papéis sociais dos artífices

Esta investigação proporcionará importantes conhecimentos sobre a pré-história do artesanato especializado, em particular do trabalho da pedra e da metalurgia e as relações de reciprocidade no seu entorno. O desenvolvimento de novas técnicas em ambos os artesanatos parece ter estado influenciada por exigências e necessidades mútuas: as estelas teriam sido inspiradas pela apreciação de objetos metálicos complexos e os canteiros retratavam os produtos dos hábeis artífices do metal nas pedras, frequentemente utilizando as suas melhores ferramentas. O significado simbólico dos monumentos deve ter ultrapassado largamente as imagens reais: numa sociedade que é consciente das propriedades físicas dos materiais naturais circundantes, os artífices que podiam adornar as rochas mais duras com símbolos portentosos deverão ter sido, sem dúvida, os mais respeitados. O esforço dos artífices será examinado na experiência arqueológica, que será baseada nos resultados das análises de materiais.

 

3. Comunicação visual: imagens e motivos

Nos estudos regionais previstos, será reexaminada a continuidade diacrónica das estratégias tradicionais de comunicação visual nas zonas com estelas da Idade do Bronze Final, assim como as suas relações com estátuas-menires anteriores (2600-1600 a.C.) e as estelas de armas Alentejanas (1800-1200 a.C.) na região. As estelas do Bronze Final parecem referir-se com frequência a estátuas-menir, com a sua localização e por vezes também com detalhes iconográficos particulares (diademadas), assim como a estelas de armas com as suas amplas composições de motivos (Diaz-Guardamino 2010; Vilaça 2011; Rodriguez-Corral 2017; Araque 2018; Diaz-Guardamino et al. 2019a, b). A frequente aparição de figuras humanas nas estelas da Extremadura e Andaluzia, em contraste com a sua escassez em Portugal, é ainda pouco conhecida, pelo que neste projeto serão ainda avaliados os possíveis motivos para tal. Portanto, o antropomorfismo da estátua-menir terá que ser reconsiderado e comparado com as estelas sem figuras humanas. Os objetos de bronze representados dão pistas sobre as zonas de contacto distantes e sobre os sucessos técnicos. Esta seleção consciente de motivos caracteriza as estelas ibéricas como um meio de comunicação multifacetado, e ainda não foi vinculada à escolha das rochas como meio de imagem. A persistência física das rochas duras deve ter sido um aspeto importante num ambiente de vida que pode ser descrito como instável no Bronze Final e, portanto, também poderá ter representado uma constante espiritual. Consequentemente, as imagens serão estudadas como expressões de conceitos socioculturais idealizados. Também será considerada uma possível conexão entre os tipos de rocha e os motivos. Acresce ainda que as representações transmitem informação sobre as capacidades cognitivas dos artistas (Huth 2003), mas que, contudo, só poderão ser interpretadas em contexto com as propriedades materiais dos meios de imagem. Em suma, existem abundantes perspetivas que se podem tomar para uma compreensão mais profunda das estratégias pré-históricas de comunicação dentro deste projeto.

 

4. Mobilidade: redes e comunicação intercultural

A distribuição de alguns dos objetos originais representados nas estelas, que se estendem ao longo de uma vasta zona geográfica, quer seja por intercambio ou troca dos originais, quer seja como material ilustrativo levado para melhorar as próprias habilidades, ou por qualquer outro motivo, pode indicar que os monumentos contam as histórias dos viajantes. As estelas do Bronze Final poderiam ser expressões visuais de indivíduos móveis que ligavam certas comunidades: trazem novos objetos, conhecimentos, técnicas e histórias em troca de abrigo e provisões. Estas hipóteses podem agora provar-se, já que o projeto implica a investigação sobre redes e circulação interrelacionada de materiais. O conhecimento existente sobre o intercambio de bens será complementado com a análise de materiais para revelar os itinerários dos objetos, assim como novas perspetivas de arqueologia paisagística, análises de redes e estudos de imagem. Tal inclui uma reconsideração da intensidade dos contactos no Bronze Final que, entre outras coisas, deram lugar a intercâmbios tecnológicos entre Portugal e a Sardenha (Armbruster 2003; Senna-Martinez et al. 2011; Lo Schiavo 2013; Vilaça 2013b; Araque 2018). O objetivo geral será examinar os efeitos da criação de redes no ambiente de vida e para a cultura das comunidades locais.

 

Metodologia e plano de trabalho

A. Réplica experimental das estelas com ferramentas pré-históricas

Os objetivos desta experiência arqueológica são a obtenção de uma visão prática das técnicas pré-históricas do trabalho da pedra no caso da rocha dura, que não poderiam ser alcançadas de outra forma. Isto proporcionará informação sobre a eficiência e o manuseamento das ferramentas; o esforço e as habilidades requeridas; e a identificação dos lugares de trabalho nos contextos arqueológicos. Para este último, o solicitante elaborará um esquema de registo dos lugares de trabalho: documentar-se-á meticulosamente os diferentes tipos de escombros e roturas para obter detalhes e o resultado poderá ser utilizado em futuras escavações. Para a experiência, as rochas relevantes serão transportadas para o Museu do Sabugal. Cinzéis de bronze e de ferro do Bronze Final, dos tipos e composição mais robustos, serão replicados pelo Dr. Bastian Asmus e as ferramentas de quartzito pelo Dr. Michael Kaiser. O canteiro Giuseppe Vintrici (formado em técnicas medievais) utilizará estas réplicas para remodelar as estelas de Baraçal (granito) e de Foíos (xisto) com tecnologia do Bronze Final e reproduzir as suas próprias ferramentas de quartzito em caso de rotura. Embora seja provável que seja fácil trabalhar com xistos e que se possa realizar uma estela em poucos dias, espera-se que o trabalho com granito apresente um grande desafio com as ferramentas respetivas e, por isso mesmo, prevê-se uma duração de até um mês. A comparação do tempo e dos esforços investidos em rochas duras e brandas, assim como as ferramentas e o nível de destreza necessários, irão fornecer importantes resultados.

Na segunda parte da experiência, a estela de Capilla 1 será reproduzida a partir do quartzito correspondente. O procedimento já mencionado persistirá, mas haverá que ter em conta a possibilidade do surgimento de dificuldades graves para que o quartzito sirva com as ferramentas disponíveis. As ferramentas para a elaboração do granito terão que ser reavaliadas e terão de ser consideradas alternativas consultando especialistas: o bronze provavelmente não funcionará. As réplicas resultantes das estelas serão doadas às comunidades locais correspondentes aos locais de achado.

 

B. Análise das estelas na paisagem (SIG) e possíveis vias de comunicação

Todas as estelas da Beira Interior e da Alta Extremadura serão integradas num estudo de paisagem, efetuado por Pedro Baptista e pelo Dr. Pablo Paniego Díaz, para analisar a relação das estelas com as estátuas mais antigas e com as possíveis vias de comunicação. Um mapa SIG será composto por todos os sítios do Bronze Final da zona, integrar-se-ão as estátuas-menir mais antigas desta região e todas as estelas juntamente com as possíveis vias de comunicação (Baptista 2019; 2020; veja-se também Fábrega et al. 2011; Llobera et al. 2011). Abarcará também as localizações dos depósitos de matérias-primas, as fontes rochosas detetadas no estudo geológico e as características da paisagem natural, assim como os recursos hídricos e os topos das colinas. Esta avaliação é particularmente importante para a compreensão dos aspetos territoriais e espirituais das estelas (Araque 2018). Esta abordagem será comparada com os resultados das análises de isótopos de chumbo e permitirá avaliar a circulação de materiais e tecnologia. Com o fim de provar a hipótese predominante das estelas como marcos das redes do Bronze Final, também serão revelados os papeis dos artífices itinerantes.

 

C. Estudo geológico no interior da Beira

O estudo geológico, efetuado pelo Prof. Dr. Rafael Ferreiro Mählmann com a assistência de Pedro Baptista e Marcos Osório, tem por objetivo a identificação das fontes onde se terão obtido as rochas para elaboração das estelas. Para tal, deverão analisar-se amostras petrológicas e os resultados deverão ser comparados com as assinaturas das estelas (baseado nas nomenclaturas de Le Maître 2004, Bucher & Frey 1994 y Frey & Robinson 1999). Os dados SIG obtidos a partir dos recursos de granito, xisto e quartzito integrar-se-ão no estudo da paisagem regional.

 

D. Análise de cinzéis metálicos e objetos de bronze

A alta qualidade das ligas de estanho-bronze do Bronze Final na Beira poderão revelar ligas efetivamente adequadas para cinzéis de talhar granito (Figueiredo et al. 2010): os cinzéis de bronze selecionados serão analisados pela sua composição (XRF), pela sua microdureza, e com metalografia dos especialistas em Arqueometalurgia, o Dr. Xose-Lois Armada, o Dr. Bastian Asmus e o Dr. Carlo Bottaini. Estas análises são cruciais na avaliação da aplicabilidade do cinzel na rocha dura e para a criação de réplicas precisas.

(traduções de inglês: Ana Amor Santos, Universidade do Coimbra, contacto: anaamorsantos@gmail.com)

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